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capítulo 1 - continuação ....

-você está bem?-perguntou percebendo, provavelmente, o meu olho vermelho do choro.

-si... Sim – gaguejei. -eu te conheço de algum lugar? -não era possível, eu devia conhecê-lo de algum lugar, e ele sabia o meu nome, apesar de que se eu o tivesse visto antes com certeza me lembraria.

-não, desculpa. Eu sou o Ricardo. - eu registrei e procurei seu nome em minha memória. Nada. A não ser que... A raiva se tornou mais forte, a mentira e a enganação engasgadas na garganta faziam com que eu não conseguisse falar e nem pensar direito. Voltei a andar novamente, eu não queria ficar nem mais um segundo ali.

- Helena, por favor, me desculpe. – eu não queria saber das desculpas esfarrapadas nem das mentiras dele. – por favor... – a voz dele foi sumindo enquanto eu ia me afastando.

Eu não sei o porquê, mas aquilo me deixou com mais ódio e vontade de falar tudo que estava engasgado na minha garganta.

Eu me virei – como você é cara de pau! Se fingindo de pobre arrependido e magoado. Quem foi enganada e traída nessa história fui eu! Quem viveu uma mentira fui eu! O que você está fazendo é patético. – minhas palavras foram como lâminas afiadas e letais.

Ele olhou para mim com cara de quem havia sido terrivelmente atingido com as minhas palavras. Eu não me arrependi.

- a minha intenção não foi essa...

- e foi qual? Me fazer de boba a minha vida inteira? Enganar a boba da helena? Haa... Poupem-me!

- por favor, eu só peço que você me ouça por alguns minutos. - ele implora, chegando mais perto e pegando na minha mão.

Eu puxei minha mão da dele. Não queria o seu toque.

- por favor...

O ódio saia de mim da mesma maneira que havia entrado, repentinamente. E a curiosidade a substituía. – cruzei os braços.

- e o que você tem para me falar nesses minutos? – perguntei na defensiva.

- eu queria te explicar toda essa bagunça e, como você própria disse, o porquê de você ter vivido essa mentira. – ele não voltou a encostar em mim de novo, mas se mantinha em uma posição próxima a mim. Ele falava meio que suplicando agora. – vem comigo. – disse simplesmente depois de alguns segundos, me olhando nos olhos. Olhos que eram de um azul profundo, até pereciam uma piscina iluminada pela luz do sol de tão profundos e lindos que eram. Eu não respondi e ele se virou e foi em direção ao carro preto um pouco distante de nós e eu fui atrás, vi que o carro de meu pai acabará de sair do acostamento na direção oposta que agente estava vindo. Eu não gastei muito o tempo olhando em sua direção e continuei andando em silêncio na direção do carro. Comecei a pensar: agora que ele falara a curiosidade tinha me atingindo como um furacão, eu tinha muitas perguntas sem respostas e isso me incomodava.

Ele abriu a porta do carro para mim e eu entrei, enquanto ele dava a volta no carro e sentava a meu lado no banco do motorista. Por um segundo abaixei os olhos e depois os dirigi a janela fumê ao meu lado, continuando o pensamento: eu e ele sabíamos que eu queria muitas repostas, isso era óbvio. Mas eu me vi em meio ao um amontoado de informações que eu não conseguia discernir nem digeri. Eu tinha que organizar meus pensamentos, e comecei a fazer isso pelas questões mais vitais, que era com certeza, querer saber a verdade, toda a verdade, não queria meias nem metades de verdade, eu a queria toda e o porquê das mentiras? Depois eu comecei a pensar nas questões mais secundárias, as que eu tinha percebido por acaso, observando. Por exemplo, o porquê do meu pai (se é que ele era meu pai) parecer ter tanta raiva do Ricardo?E o porquê que o Ricardo só me procurara agora?(era óbvio que ele sabia que era meu irmão há algum tempo) além de que eu queria saber quem mais sabia.

-Pensativa?-Pergunto Ricardo depois de um tempo. Não parecia uma pergunta.

– não devia? – falei com um tom de leve acusação na voz.

Ele ficou mais sério. –é, acho que sim. -ficamos em silêncio por mais um momento, enquanto eu olhava ao redor e percebia onde estávamos. Parecia a Barra, mas eu não tinha certeza e percebi que nem sabia aonde eu ia com um estranho a meu lado, que falavam que era meu irmão e que eu havia acabado de conhecer a alguns minutos.

-posso fazer uma pergunta?-disse voltando-me para ele.

-claro.

-para onde vamos?

Ele riu. -para minha casa. -e depois pareceu perceber algo. -você se importa?Porque se você quiser ir para outro lugar...

-não, não- o interrompi. -tudo bem.

Eu vi que naquele momento não se tinha muito a fazer, eu não tinha muita certeza de nada naquele momento e a casa dele não parecia totalmente uma má idéia, já que lá teríamos privacidade para ele me explicar o que realmente estava acontecendo.

O silêncio voltou ao carro. Mas não por muito tempo, já que a curiosidade martelava na minha mente. -mordi o lábio, insegura.

Ele percebeu.

-por que você está ai mordendo o lábio, fala. -ele me olhava de vez enquanto de relance tentando presta atenção na estrada e em mim ao mesmo tempo.

-depois. Antes que você bata o carro tentando dirigi e falar comigo ao mesmo tempo.

Ele riu novamente.

-pode falar, eu não vou bater não. Juro.

-se eu morrer já sabe, te processo. –respondi. Meu humor havia melhorado consideravelmente, o que era bom para que eu conseguisse ter uma conversa civilizada com ele.

-como vai me processar se estiver morta? –perguntou me olhando abertamente enquanto esperávamos o sinal abrir.

-essa é a questão. –respondi com uma piadinha fraca. Eu não conseguia ficar com raiva de uma pessoa por muito tempo, e isso às vezes se tornava um problema, mas agora eu agradecia por isso já que iria me ajudar a conseguir respostas.

-como você é boba. -ele sorriu tentando não ri.

-deve ser de família. –eu tinha um bom histórico de micos na família por causa de tios e tias que me faziam ficar vermelha e sem-graça com suas perguntas muito, e põem muito nisso, evasivas.

-de jeito nenhum, nosso pai não é nada engraçado. –eu me calei novamente. Não podia contestar isso, me pai não era nada engraçado, pelo contrario, ele até se irritava nas festas de família, com as brincadeiras que alguns dos meus tios e tias faziam com ele, comigo e com a minha mãe.

-desculpa. Te aborrece falar nele,não é ?

-não é que me aborrece falar dele. É só que quando você descobre que a pessoa que você devia confiar, que é o seu pai, mentia pra você desde que você nasceu e pra mais não sei quantas pessoas, é meio difícil você sentir alguma empatia por ele.

-eu sei que é, mas ele continua sendo seu pai, e ele deve ter tido os motivos dele. –ele prestava atenção na rua novamente. Eu olhei para ele, não acreditando que ele estava ,como eu temia,justificando meu pai em algo injustificável.

- eu simplesmente não acredito que você está justificando a pessoa mais asquerosa que eu conheço. – fiquei novamente irritada com o que ele me disse, mas eu não devia esperar outra coisa de uma pessoa que havia me enganado junto com o meu pai, afinal “filho de peixe, peixinho é”

-não é isso, ele se preocupa com você, muito e eu também. Foi para o seu bem. –eu tentei entender o que ele estava dizendo. Para o meu bem?O que?Por eu saber que tinha um irmão eu estava em perigo? Atah, até parece.

-ta. -disse com escárnio na voz.

-é sério, você não sabe o quanto você é importante para algumas pessoas. - ele me deu a impressão de que ia continuar a frase.

-isso é loucura de mais. – balancei a cabeça tentando assimilar tudo aquilo.

Ele estacionou seu carro no estacionamento de um condomínio lindo, onde qualquer um diria que só moravam pessoas ricas.

-eu não tenho direito de pedir isso pra você, mas, por favor, confia em mim. –meu deus, como ele era lindo. Nem em meus melhores sonhos eu conseguiria imaginar com exatidão e perfeição como ele era, sabe aquele tipo de pessoa que parece sair de um livro fictício direto para a realidade?Era ele.

Mas eu não conseguia exatamente confiar nele ainda, por mais que ele fosse lindo de morrer, para mim ele não passava de um rostinho bonito, gentil e nada a mais. Ele ainda era um mentiroso para mim.

1 comentários:

Lu 29 de novembro de 2010 às 07:36  

será que ele é o irmão dela de verdade?
estou super curiosa. ^^

quero mais. ^^
beijos.

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